quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Mais das ilusões

então o jovem perguntou ao rabino "o que é necessário para se tornar um grande artista?", e o rabino respondeu sem pestanejar: "ter pouco apetite".

Sai Baba - Deus e as ilusões do caminho

Os principais meios pelos quais você pode desvencilhar sua mente das distrações do mundo e se fixar na busca de Deus são a ioga e a renúncia.
O desejo deve ser afastado através da renúncia, e Rama (Deus) deve ser afirmado através da ioga (a união de todas as suas capacidades para um objetivo espiritual).
O desejo embota a inteligência, deturpa o discernimento, estimula o apetite dos sentidos e confere uma falsa atração ao mundo material.
Quando o desejo desaparece, ou é concentrado em Deus, a inteligência brilha em seu antigo esplendor; e esse esplendor revela o Deus presente interna e externamente. Esta é a auto-realizaçã o.

SATHYA SAI BABA

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Prestigie as Artes Cênicas!

O valor da entrada de um espetáculo teatral, na maioria das vezes, não é mais caro do que uma entrada de cinema. Porém, há que se lembrar que tudo o que está sendo apresentado está de fato lá ao vivo (não é virtual!). Muita gente, além dos atores, performers e bailarinos que estão no palco se esforçaram para que a apresentação aconteça: desde a pessoa que vende ingressos na bilheteria, até o diretor, passando por contra-regras, iluminadores, músicos, figurinistas, cenógrafos e, evidentemente, o autor.

A batalha que enfrentam as produções nacionais é complexa e árdua: estudo de um tema adequado, texto, elenco, locais para ensaios, o esforço para criar um espetáculo de qualidade artística, a busca por patrocínio, a via crucis por apoios culturais, a dificuldade em se encontrar um espaço adequado para montar a apresentação, a montagem técnica em si, a divulgação. Tudo em troca de sua presença e de seu aplauso! Não há sentido numa apresentação sem público...

Ao prestigiar as Artes Cênicas, você sai do teatro aumentado: novos conhecimentos, novos questionamentos, novos horizontes culturais. Na percepção individual ou coletiva da identidade, a cultura exerce um papel principal para delimitar as diversas personalidades, os padrões de conduta e ainda as características próprias de cada grupo humano. Quando o indivíduo amplia sua cultura pessoa, interfere diretamente na sociedade, transformando-a e renovando-a.
Para o teórico Milton Santos, o conhecimento e o saber se renovam do choque de culturas, sendo a produção de novos conhecimentos e técnicas, produto direto da interposição de culturas diferenciadas - com o somatório daquilo que anteriormente existia. Para ele, a globalização que se verificava já em fins do século XX tenderia a uniformizar os grupos culturais, e logicamente uma das conseqüências seria o fim da produção cultural, enquanto gerador de novas técnicas e sua geração original. Isto refletiria, ainda, na perda de identidade, primeiro das coletividades, podendo ir até ao plano individual. Vamos provar na prática que esta nefasta previsão pode ser mudada!
Cada vez que você decide tão simplesmente ir ao cinema ou tomar um "chopinho" com os amigos e deixa de prestigiar um espetáculo nacional, um pouco mais deste esforço se perde. Cada vez que você decide pagar uma quantia grande de dinheiro para assistir uma super-produção estrangeira, mais ainda. Pense nisso...

Nova empreitada! Anti-Justine

Essa semana cheguei do X Festival Recife do Teatro Nacional e recebi um convite interessante pra participar de um espetáculo à la Praça Roosevelt: Anti-Justine, adaptação e direção de Rui Xavier do romance homonimo de Restif de La Bretonne.
Caminhos alternativos, uma galera nova e empenhada, e sobretudo, com sede de criar, devotos do teatro.
Vamos juntos nesse barco! Gostei do grupo.
A estreis está prevista pra março de 2008, no espaço dos Satyros.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Crítica de Vem Vai em Recife-PE

Notícias daTerça-feira, 20 de novembro de 2007.

DIARIO DE PERNAMBUCO Caderno Viver

Cia livre // Ousadia e paixão para falar sobre a morte

Essa coisa de falar de mortos pode causar arrepios em muita gente viva. O assunto é delicado. Há muitas vertentes de pensamentos e crenças sobre o que acontece com o ser humano depois dos últimos suspiros na Terra. Existe uma outra vida ou é o fim de tudo? Essa pergunta inquieta.

A cia.Livre, de São Paulo, estudou, investigou e transformou numa cena vigorosa essas questões a partir da perspectiva dos ameríndios e dos rituais indígenas. O espetáculo Vemvai - o caminho dos mortos fez duas sessões no Nascedouro de Peixinhos, sábado e domingo, dentro da programação do 10º Festival Recife do Teatro Nacional.

O grupo poderia até ter ficado espantado com alguns incidentes antes das apresentações no Recife. Primeiro, o veículo que transportava o grupo no trajeto do Crato (a trupe participou da Mostra Sesc Cariri de Cultura) ao Recife atropelou um cavalo que atravessou o caminho. Depois foi um motoqueiro. Por último, no dia do ensaio geral, um tiroteio ocorreu nas imediações do antigo matadouro e o ensaio foi suspenso. A sessão de sexta-feira à noite foi cancelada por problemas técnicos.

Nada disso tirou a força das duas récitas. Crianças, homens e mulheres jovens e velhos da comunidade e espectadores que vieram de longe conferiram o espetáculo dirigido por Cibele Forjaz, com texto de Newton Moreno e saíram estonteados. A platéia acompanhou essa representação sobre o processo de travessia para o além, do momento da morte, até a chegada ao outro lado. Os primeiros momentos foram os mais difíceis. O barulho do entorno, a falta de hábito de algumas crianças que falavam alto e comentavam as cenas. Mas o elenco dominou o público com maestria.

A peça é dividida em cinco atos, com cerca de duas horas de duração. O elemento narrativo que amarra a estrutura da peça é o vaká (duplo ou lama) para os Marubo. A montagem surpreende nas suas resoluções cênicas: morte ritual; a morte física; os ritos funerários; o caminho morte; a devoração pelos deuses celestes canibais e a conseqüente troca de pele. Depois de um longo trajeto está a"morte" do morto e sua transformação em "outro". Aí, entram todas as possibilidades de mudanças ou mortes simbólicas para se possa viver outra vida. É uma proposta também de se pensar a diferença e o respeito pelo outro (difícil tarefa cotidiana).

A trupe passeia por diversos gêneros teatrais. Começa com um ator anonimamente sentado junto ao público, que atende ao celular para explicar para sua mãe que está no teatro e não pode falar naquele momento. Já é a primeira jogada de mestre. No Nascedouro, as primeiras cenas foram desenvolvidas com atores e público no palco, com cortinas que se abrem e fecham e todos se deslocando pelo espaço. Um homem quer saber se vai morrer, o que acontece depois disso tudo.

Cibele comanda essa experiência sensorial, que o canto, a dança e as intervenções musicais (ao vivo) ruídos trazem para questionamentos contemporâneos sobre a ligação com o outro, o estrangeiro. A encenação, que faz parte de um projeto maior chamado Do canibalismo à Antropofagia, envereda pelo estudo sobre as cosmogonias da morte e traz esses signos para essa cultura ocidental. As sete portas e cinco espaços, que originalmente o público deveria atravessar foram concentrados no palco e na platéia, e todos fazem um vemvai nas duas direções. O espetáculo é ousado, amplo, profundo, comovente, engraçado e conta com um elenco apaixonado, febril, onde todos têm seu momento de destaque, e Lúcia Romano, atuação impecável. (Ivana Moura)